O azulejo PAN AM – Uma marca dos tempos.
A recente notícia
da possibilidade da classificação do Painel de Azulejo da PAN AM do
Reguengo do Fétal como monumento fez-me recordar não só o trajecto
semanal da minha infância e juventude, da Batalha para casa dos meus
avós em Ourém, mas sobretudo um projecto da Câmara Municipal da
Batalha em que tive a honra de participar, já lá vai uma década.
Em 2007, pouco
tempo depois da eleição do Mosteiro da Batalha como uma das 7
maravilhas de Portugal, foi-nos lançado o desafio para a utilização
daquela estrutura em betão com dezoito metros de comprimento por
seis de altura, situada na encosta sobranceira à aldeia do Reguengo
do Fétal, mesmo de frente e em destaque para quem circula no sentido
Fátima/Batalha pela antiguinha EN356, como suporte para a divulgação
e publicitação de tão honrosa distinção pública. Tratava-se de
um painel estruturalmente estável, mas sem qualquer utilidade, sem
um dono activo e situado num terreno público, mesmo a jeito para ser
transformado num suporte de publicidade exterior útil, com muita
visibilidade e disponível. Se, do ponto de vista do layout gráfico
a desenvolver, a discussão foi como sempre … subjectiva, já as
questões práticas e materiais do tipo de solução técnica foram,
desde a primeira hora, bastante objectivas e pragmáticas: Todas as
soluções seriam equacionáveis, poderiam e deveriam cobrir a
totalidade da face de exposição, mas sem danificar um azulejo
que fosse. O objectivo era usar sem estragar o edificado. E assim
se fez. Apesar de muito mais prácticas, duradouras, resistentes e
económicas, e da superfície lisa facilmente o permitir, as soluções
de pintura directa ou aplicação de vinil foram postas de lado
liminarmente. Foi necessário construir uma estrutura metálica
exterior, fixada no verso e com apoios de reforço adicionais
chumbados no terreno, e uma proteção especial em metal para
deflectir os fortes ventos ali sentidos, por forma a proteger e
suportar uma tela tensionada de quase 100m2, através de
cabos de aço. Aliás, no início de 2013, com os ventos ciclónicos
que se abateram na região, a tela também de desprendeu e foi
necessário fazer a respectiva reparação. Durante cerca de sete
anos, o Mosteiro fez parte do horizonte, sete quilómetros antes de
se chegar à Batalha. Mais recentemente, com a construção do IC9, o
tráfego pela estrada antiga diminuiu imenso, e com ele o interesse
publicitário da estrutura com azulejos erguida nos idos anos 50.
Hoje, a estrutura
continua em boas condições e, apesar de ser necessária a
recuperação e reparação de alguns azulejos que com a erosão se
foram descolando, considero uma excelente ideia a classificação,
seja ela qual for, que permita a manutenção e preservação, para
sempre, deste símbolo da cultura universal que tivemos a sorte de
acolher na nossa região. Se não, vejamos:
- A empresa PAN AM já não existe desde 1991 e foi uma das maiores e a mais elegante e carismática companhia aérea de todos os tempos. Recentemente, em 2011, foi até tema central de uma série televisiva mundialmente famosa, precisamente, com o nome PAN AM. Os aviões já não voam, mas continuam na memória colectiva de, pelo menos, meio mundo.
- É um legado raro, não só como marca, mas também pelo tipo de material empregue na sua construção, azulejos produzidos pela igualmente histórica e centenária Aleluia Cerâmicas.
- Com custos relativamente baixos se conseguirá mais um atractivo cultural e turístico de relevo e fora do vulgar.
Tal como outros
azulejos famosos que, no século passado, deram vida às marcas
(alguns ainda dão), pelas estradas de Portugal, como a Mabor, o
Licor Beirão ou o Nitrato do Chile, o painel da PAN AM do Reguengo
do Fétal é um património universal de que nos devemos orgulhar e
que contribui para a nossa afirmação enquanto povo tolerante,
aberto e culturalmente desenvolvido. Que em suma, contribuirá para o
reforço da nossa marca territorial regional e também nacional.
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